domingo, 27 de junho de 2010

"Isso daqui está uma merda!". É assim que Dona Eva inicia sua fala sobre o bairro onde mora. Famosa na Comunidade São Remo, extremo da Zona Oeste, ao lado da Universidade de São Paulo, Dona Eva mora na região desde 1973 e estava revoltada com a falta de conscientização dos seus vizinhos com a limpeza e manutenção da região. Sua raiva era causada pelo fato de, mais uma vez, o caminhão de lixo não ter passado no local. Não porque ele não tenha ido até a São Remo, mas o acúmulo de carros nas ruas estreitas do bairro impediram que o lixo depositado nos locais de acesso mais difícil fosse recolhido.

Eva conta que quando chegou no bairro não tinha nada construído, "era tudo barro". Vinda do Piauí, foi morar em Sorocaba. Seis anos depois, após perder o emprego, foi morar na São Remo e montou sua barraca: um ponto de encontro onde são servidas bebidas e aperitivos. Desde então, apesar das dificuldades, da raiva e do humor alterado do momento, Dona Eva não pensa em abandonar o bairro que outrora a acolhera. "Eu amo a São Remo!", afirma.




Mas o amor de Dona Eva pelo bairro não custou a encontrar um contraponto. Em pouco tempo, Dona Odete, moradora da região há tanto tempo quanto Eva, se aproximou da conversa. Iniciou-se um longo debate sobre a região. Odete é obstinada a sair da São Remo. Deixa claro que não é feliz no bairro e já comprou uma casa em Cotia. "Ainda não sai daqui porque estou esperando minha aposentadoria", explica. Sobre os problemas apontados por Eva, e dos quais reclama constantemente, Dona Odete não ousa arrumar confusão com ninguém. "Eu vou reclamar? Eu fico é quieta. Tenho amor à vida", alerta a moradora que, ao contrário de Eva, parece sustentar um trauma da região.

Quando foi morar na São Remo, conta que buscava água num lago próximo, hoje aterrado. Sua casa era considerada em situação de risco, mas com o tempo o barranco foi "encostado". Encostado é o termo que Dona Odete usa para designar quando casas são construídas em frente de um barranco a fim de conter seu deslizamento. Ela conta que grande parte da região está levantada sobre uma região aquífera. "Quando fiz o meu barraco, deu 1m20 já dava pra encontrar água", lembra.

As lembranças do início, entretanto, dão margem às comparações com a situação atual. Dona Eva reclama melhorias feitas no bairro e que muitos representantes da região assumem pra si. "Eu falei pra ele: está vendo ali? tem um buraco. Primeiro você tampa o buraco para depois falar que você está melhorando a comunidade!", conta Eva sobre quando um representante da associação de moradores falava das melhorias no bairro como conquistas da sua gestão.

Pergunto se elas não participam das reuniões da associação de moradores. Nenhuma das duas participa. Enquanto Dona Eva sabe quem são os representantes e cobra medida de cada um deles, Dona Odete passa longe. "Não vou e nem conheço. Ir lá pra que?Ouvir conversa!? Só quem honrou promessa foi São Severino do Santos", conta Odete, que só vota em eleição "tradicional". Para Eva, a solução pra acabar com tudo isso é simples: "Quem deveria cuidar disso aqui era as mulheres!", reivindica a moradora que não se considera politizada e nem engajada. “É que eu fico revoltada”, explica.

Ambas reclamam da falta de iniciativa dos atuais representantes da associação de moradores. De acordo com elas, situações como a que tirou Dona Eva do sério são ignoradas pelo atual líder da associação. Para Odete "Eles tem é medo da pele deles. Comandar o que? Um bando de marmanjo?!".



Conheça outros bairros

Voltar para Wiki